sexta-feira, 17 de abril de 2009

SEGUNDO DOMINGO DA PÁSCOA: DOMINGO DA MISERICORDIA

"Viver em comunhão é experimentar a ressurreição"

O Tempo Pascal pode ser resumido na seguinte frase: “a esperança venceu o medo”. A esperança cristã pela vitória da vida sobre a morte é o resumo da liturgia deste segundo domingo da Páscoa.
Vivemos um tempo propício para o renascer, crescer, produzir frutos e viver, a partir do impulso da vitória de Jesus sobre todos os sinais de morte da história humana. Depois de ter celebrado os mistérios de Cristo presentes na Páscoa, importa viver esse período como desdobramento do mesmo mistério da fé cristã. Por isso, somos convidados a refletir sobre a fé vitoriosa no amor de Cristo.
As duas primeiras leituras de hoje nos convidam a uma reflexão sobre o amor fraterno, à luz da Páscoa, ou seja, da vitória do Ressuscitado. Em sua primeira carta, São João explica que em Jesus se manifesta o amor de Deus; mais, que Deus é amor – “Deus charitas est”, aliás, tema com o qual o Sumo Pontífice Bento XVI ofereceu-nos a primeira encíclica de seu Pontificado, sobre o amor de Deus pela humanidade, promulgada a 25 de janeiro de 2006.
Deus nos amou primeiro e nós também devemos amá-Lo. Mas como não O vemos, devemos amá-Lo no irmão que vemos, no irmão excluído, no irmão pobre que está na sarjeta, no irmão que não tem casa, não tem comida, não tem remédio, não tem plano de saúde, não tem previdência social. Esses nossos irmãos são filhos de Deus, porque acreditam em Jesus Cristo. Ora, quem ama o Pai deve amar também seus filhos e filhas. Amando seus filhos, nossos irmãos, viveremos na observância de seus mandamentos – o mandamento do amor, que Cristo nos deixou e pede que sigamos e coloquemos em prática.
A caridade fraterna, o mandamento do amor, não é um peso, mas, antes, uma doce alegria. Sua prática atesta a vitória sobre o mundo, a vitória daquele que crê em Jesus Cristo que, pelo sangue de sua cruz e pelo Espírito que nos deu – e também pela água do Batismo, que significa tudo isso –, vence o processo contra o mundo.
A primeira comunidade reunida é relatada sempre no segundo domingo da Páscoa. Este domingo, chamado de domingo da “Pascoela”, ou “Domingo in albis” - por causa dos paramentos brancos e das vestes batismais que eram usadas durante todo o Tempo Pascal pelos batizados na Vigília Pascal, este domingo, por doce desígnio do sempre lembrado e saudoso Sumo Pontífice João Paulo II, é chamado também de DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA.
Nesta celebração, recordamos o salmista: “Louvai o Senhor, porque ele é bom e eterna é a sua misericórdia” (Sl 118,1). O próprio Evangelho nos relembra a misericórdia de Deus para com a humanidade (Jo 20,23), que teve o seu ponto alto na paixão, morte e ressurreição pela nossa salvação, para a nossa vida plena em Deus.
Mas o Evangelho, relatando-nos a incredulidade de Tomé, nos fala que a fé vai além dos sentidos, a fé ultrapassa qualquer inteligência ou qualquer esquema pré-fabricado. A partir do momento em que aderimos a Jesus Cristo, devemos crer com grande entusiasmo, com grande fé, esperança e amor, porque Deus tanto amou o mundo que mandou seu Filho para que morresse pelos nossos pecados, e mais, ressuscitando ao terceiro dia para inaugurar a vida eterna.
O Cristo que esteve entre os discípulos, comendo e caminhando com eles, ensinando-os e sustentando-os sempre com sua presença, é o mesmo que está no meio da comunidade até o fim dos tempos. É o mesmo, mas não mais perceptível pelos sentidos. “Felizes os que não vêem e crêem” (Jo 20,29), é a nós que Jesus se refere, a todos os que, sem negar o valor aos sentidos e ao entendimento, vão além e aceitam o campo da fé. Pedro dirá: “Sem vê-lo, o amais; sem vê-lo, nele tendes fé. Isso será para vós uma fonte de alegria” (1Pd 1,8)
A comunidade de ontem e de hoje ama Jesus, o Senhor Ressuscitado; crê e sabe que ele está realmente presente, ainda que os olhos não o vejam e as mãos não o toquem. A dúvida e a incredulidade de Tomé são símbolo da dúvida e incredulidade que acompanham nossa mente.
Mas junto com a incredulidade de Tomé vem a sua belíssima profissão de fé: “MEU SENHOR E MEU DEUS” (Jo 20,28), Pois essa deve ser a nossa profissão de fé nesta Páscoa: “MEU SENHOR E MEU DEUS, EU CREIO, MAS AUMENTAI A MINHA FÉ!”
Jesus institui nesta Missa o sacramento da penitência e o sacramento da santificação. O homem que nasce com o pecado mortal é regenerado pelo batismo e depois pela confissão sacramental, de forma auricular. Por isso este é o Domingo da Divina Misericórdia, a Divina Misericórdia que vem ao nosso encontro para que deixemos o pecado e vivamos a graça santificante do batismo e a nova evangelização, tendo a santidade como objetivo e meta absoluta da vida cristã.
Jesus nos dá uma vida nova com a sua Ressurreição. Por isso Pedro exorta a sermos “como crianças recém-nascidas, desejando o genuíno leite do Espírito”. Fazer-se criança é o sentido de renascer de que falava Jesus a Nicodemos. O Espírito Santo que Jesus hoje sopra sobre a comunidade reunida é graça e força para sairmos da ira para a mansidão, do ódio para a bondade, da discórdia para a unidade, da ganância para a solidariedade, da libertinagem para a contingência. O Espírito nos reconstitui sempre de novo a alegria do amor e da unidade fraterna, sem os quais, não sobrevive a comunidade.
Crer que o Cristo é o Filho de Deus, enviado pelo Pai para nos dar a vida da graça, a vida eterna, esta é a razão da encarnação de Jesus. Esta a razão da ressurreição na Páscoa. Não há duas ressurreições. É uma única, por isso todas as nossas ações se voltam para a sua ressurreição.
A mensagem de paz e a missão do mútuo perdão que Jesus lega a seus discípulos no dia de sua ressurreição, dando-lhes o seu Espírito, é, em primeiro lugar, esta missão da plena comunidade. O Espírito lhes é dado para ser a alma desta comunidade. Porém, não deixará de irradiar também para fora. Mas isso só encontrará morada no coração da comunidade fraterna, a nossa comunidade de fé.
Por isso, diante do sofrimento do mundo, os cristãos são chamados a ser um sinal de esperança, alicerçados na fé e demonstrado em gestos concretos. Deus não espera que sejamos infalíveis. Ele nos oferece sempre o seu perdão e nos convida a perdoar, para todos podermos sempre recomeçar e crescer em santidade e em amor.

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